A hora do manjar de coco
Depois de uma semana escrevendo sobre mousses, pudins, panna cottas e flans chegou a hora de publicar uma receita do mais brasileirinho de todos os cremes: o manjar. Conhecido como manjar de côco, ou simplesmente manjar branco, um doce muito simples que remonta os tempos do Brasil colonial. É um doce facílimo de se fazer que tradicionalmente, diferente dos outros cremes e pudins, não leva calda de caramelo, mas de ameixas, e não demanda grandes habilidades na hora do preparo. Mas eu gosto de manjar com calda de caramelo e fiz uma calda bem fina, fácil de servir, para acompanhar.
Manjar é um doce suave, simples, doce de terreiro de umbanda e, acho eu, de candomblé também. Manjar costuma ser servido para as entidades crianças (Erês)as sextas feiras. Se me recordo bem alguns 'pretos-velhos'(depois que o acordo entrou em vigor já não sei se preto-velho tem ou não hífen!?) comem manjar nos dias de festa, tipo no dia do 'preto-velho'. Mas, para falar a verdade, eu não estou certa.
Pode ser impressão minha apenas, mas para mim manjar lembra festa de umbanda. Se não é exatamente comida de santo, nem de preto-velho , é comida de cambono e preparada por cambono. Quando eu era bem nova e acompanhava minha mãe ao centro de umbanda sempre tinha manjar e todas as amigas umbandistas da minha mãe serviam (sic), servem manjar.
Apesar de hoje eu ser uma pessoa que escolheu uma vida sem religião, eu cresci num universo composto pela tríade católica-espírita-umbandista. Quando eu era criança toda a nossa vizinhança, composta por senhoras aparentemente católicas, frequentava a umbanda, fazia despacho e servia manjar em dia de santo. Eu me lembro bem da mãe da minha melhor amiga de infância, primeira infância mesmo, que servia manjar direto, sempre com um prato para 'o santo'. A minha amiguinha era quem colocava o prato no altar. Detalhe, o prato 'do santo' não leva calda, tem que ser manjar puro.
Manjar de côco
1 litro de leite
200 ml de leite de côco
1/2 xícara, aproximadamente 100 gramas de côco ralado seco sem açúcar
6 colheres de sopa de amido de milho
6 colheres de sopa açúcar
Como
Separe uma xícara do leite e dissolva o amido de milho peneirado e reserve. Numa panela sobre fogo médio misture o restante do leite com o açúcar, o leite de coco e o coco ralado misturando o tempo todo para não grudar no fundo da panela. Quando a mistura estiver começando a querer ferver adicione a xícara de leite com amido de milho e continue mexendo até engrossar e levantar fervura. Quando ferver retire do fogo e distribua em copos ou potinhos molhados, ou em uma forma com furo no meio também molhada.
A forma molhada impede que o manjar, um doce com muito amido, grude na forma depois de duro. Deixe esfriar e leve para gelar. Desenforme depois de 2 ou 3 horas e sirva com calda de açúcar ou calda de ameixa. O doce desenforma facilmente, basta colocar a forma, ou potinho, virado sobre um prato que o manjar se solta.
Rende de 6 a 8 potinhos, dependendo do tamanho.
Calda de Ameixa
1 xícara de ameixas pretas secas picadas
1/2 xícara de água
Açúcar a gosto (eu usei 2 colheres de sopa)
Leve os ingredientes ao fogo médio numa panelinha e deixe ferver por uns 10 minutos até as ameixas se desfazerem e formarem uma calda mais homogênea.
Calda de caramelo fina
1/2 xícara de açúcar
1/2 xícara de água + para amolecer o caramelo
Leve o açúcar e 1/2 xícara de água ao fogo médio numa panela tampada e deixe ferver até formar um caramelo não muito escuro. Retire do fogo e adicione colheres de água fria e vá mexendo para o amolecer o caramelo.
Adicione a água aos poucos e com muito cuidado pois a vai espirrar. Se o caramelo com mais água não quiser amolecer e começar a empedrar leve o caramelo novamente ao fogo e deixe derreter novamente com o calor até incorporar a água acrescentada. Não deixe ferver para não endurecer novamente. Continue adicionando colheres de chá de água até atingir a consistência de calda fina. Eventualmente a calda vai endurecer novamente e precisa ter uma certa paciência para conseguir achar o ponto da calda de caramelo fininha e fácil de servir fria.
Comentários
Esse é um doce que tem muitas recordações na minha família, o meu bisavô emigrou para os Estados Unidos e posteriormente para o Brasil na década de 1900, uma das suas irmãs, acabaou por ficar lá e casar, quando vinha a Portugal fazia esse doce, era a minha mãe uma criança, ela chama-lhe o doce da tia do Brasil e por muitos anos procuramos a receita, há bastante tempo atrás fiz um post sobre o assunto. Como na altura não havia net não encontramos a receita e acabamos criando uma nossa, que não é igual mas que satisfazia a nossa vontade de comer doce de coco com calda de ameixa preta.
Quando a minha mãe vier cá a casa hei-de mostar-lhe o teu doce, ela vai adorar.
Bjs
Moira
Eu nunca consigo desenformar direito. Fica sempre feio, dai faço em tacinhas.
Tenho que tentar colocando num recipiente de louça. Estes raqmequins que vc tem são lindos e práticos. Estão na minha listinha.
Vou anotar esta receita!
Bjs e bom domingo! :)
Que legal saber que este era o doce de sua tia do Brasil. Mas é uma receita bem simplizinha, uma espécie de mingau de maizena com leite de côco. Pode ou não levar côco ralado. Mas o segredo é combinação com a calda de ameixa. Espero que sua mãe aprove. Beijos.
Clauzinha,
Manjar é muito família, né!
Este tipo de doce precisa de alguma coisa que impeça o amido da maizena de grudar na forma. A forma molhada sempre deu certo comigo, mas você pode tentar untar com um óleo bem suave.
Beijos,
C.
Eu não sei é, como você consegue fazer tantos doces, ou tem uma casa sempre cheia de gente para comer ou estão todos gordos heheh
Gostei de saber esses pormenores da história do manjar e dos santos, só não sei é quem comia a tacinha que ia para o altar do santo hehe
Bjinhos
Só quem já provou sabe a delicinha que é. Bj.
Alcina,
Aqui em casa somos 4, as vezes 5, e minhas receitas são todas pequenas, nada rende mais do que 6 e comemos uma vez cada uma das sobremesas e já acabou. Eu é que sou a viciada em sobremesa, tenho que comer algo diferente todas as noites, senão não consigo nem dormir...
Sabe que quando eu era criança eu sempre quis saber se o santo comia ou não o manjar. Se comia, comia bem pouco, pois ia sempre um monte para o lixo depois de uns dias. Minha amiga me falava. Eu era pequena e nunca me esqueci destas situações até hoje. Bj.
C.
O manjar branco está entre os "doces da minha família", que veio de longe, passando de mãe para filha. Já me referi a ele num dos primeiros posts do meu blog.
Nós fazemos com calda de ameixas, ou calda de vinho. Eu costumo fazer mais com calda de vinho.
É uma sobremesa fácil e deliciosa.
Beijos
O que eu te digo é que nunca provei e tenho uma receita guardada para fazer há muito.
Ficou bem bonito esse manjar.
Boa semana!
Bjs
Gosto de fazê-lo com uma calda de vinho com ameixas!Fica bom demais!
Bjos, Sarinha
Eu não sou baptizada mas cresci num colégio de freiras e em minha casa comemoram-se todas as festas cristãs... apesar de tudo... gosto das comememorações e da comida especial de cada data.
Adoro ir conhecendo todas essas tradições e doces brasileros.
Desconhecia completamente o manjar de côco, mas acredito que seja dos deuses! :)
Com a caldinha de caramelo soa mesmo a provocação...;)
BeijO!
Beijos.
**
Estou passando por uma fase muito complexa em minha vida, e o que mais queria nesse momento é toda a representação que esse manjar carrega. Para mim, manjar é família, é amor, carinho, compreensão. Nada sabia sobre as possíveis conexões com a umbanda, e isso, em hipótese alguma iria modificar o significado que essa sobremesa tão singela causa em mim. Ao ler sobre isso senti o cheiro dos incensos. Tenho quase certeza que não estou sozinho. E o que é bem curioso, é o fato de me sentir "impossibilitado" de preparar um manjar. Não sei exatamente o que ocorre, mas me parece um terreno proibido. Talvez eu saiba, intuitivamente, que jamais conseguirei nem aos menos alcançar um simples reflexo do que era o manjar do meu passado - para onde eu gostaria de me transportar agora. Mas dias desses farei uma tentativa, pois acredito em um mundo paralelo de sonhos e fantasias, que mesmo que saibamos que não sejam reais, podem ao menos nos confortar por alguns instantes.
Beijo,
Marcelo
cheguei aqui quando fui ao "Chef" Google em busca de uma calda para um bolo de banana.
Que surpresa agradável o seu blog!
Venho sempre depois de já ter jantado senão fica difícil olhar pra essas delícias todas : )
Eu moro nos EUA há 9 anos e A-DO-RO fazer (e comer) sobremesas! Tb amo saladas e já vou tentar a de espinafre com maçã verde.
bjs,
bjos
Apenas adaptei alguns ingredientes para a receita ficar mais light e poder comer à vontade sem sentir remorsos hehe
Em breve coloco no meu blog :)
Se você adicionar mais leite e levar novamente ao forno e deixar ferver novamente o manjar vai adquirir uma textura mais macia. Mas cuidado para não adicionar leite demais pois o manjar pode perder o sabor suave do leite de coco.
É preciso ter cuidado na hora de adicionar as colheres de amido de milho, uma distração e lá vai uma colher a mais, ou a menos, e o ponto do manjar se altera. E lembre que as colheres de amido são rasas, nada de encher demais.
Boa sorte,
Claudia