Jardins, frutas e diversidades...
Eu tenho demonstrado a alegria que me dá colher frutas no nosso jardim. Eu fico realmente feliz por colher qualquer coisa, pois o fato de colher é que me dá imensa alegria. Quando criança eu já colhia no quintal da casa dos meus pais. Me lembro bem que eu amava ir colher folhas de couve no jardim para minha mãe. Eu era tão pequena que tudo o que eu alcançava eram os pés de couve e, naquele tempo, nosso jardim era muito rico: mangas, abacates, amoras, pitangas, goiaba, mamão e um coqueiro.
Em São Paulo, minha primeira casinha em Pinheiros tinha um pequeno jardim exibia uma linda figueira que estava sempre carregada de figos que eram involuntariamente divididos com os pássaros e um mamoeiro que, apesar dos esforços, os mamões não vingavam. Já na famosa casa da Granja Viana, além dos muitos abacateiros, também tinhamos manga, bananas, amoras e limões. Na minha vizinha eu colhia maracujás, numa trepadeira linda e enorme. Na nossa casa também tínhamos pés de mamão, mas aprendi que mamões não dão certo em São Paulo, não na cidade de São Paulo e eu não sei porque...
Se hoje eu colho maças, groselhas, framboesas, morangos, cerejas, ameixas e mirtilos, eu ainda me lembro da primeira vez em que eu vi uma macieira carregada na vida, e a alegrias de ver o morangos crescerem no quintal da minha casa.
Hoje foi um dia de especial, fomos para a floresta, bacias nas mãos, colher mirtilos. Foi a primeira colheita familiar do ano e foi bem mais cedo do que eu esperava. Ontem Per e as crianças foram pescar no lago aqui perto (onde as crianças patinam no gelo no inverno) e ao passarem pela floresta onde geralmente colhemos mirtilos ele viu que os arbustinhos estavam azuis, carregados. Hoje parou de chover e fomos lá colher mirtilos. Foi uma longa hora, muito trabalho e frio. Andou chovendo e a temperatura caiu bastante nos últimos dias. As 20:00 horas, quando voltamos para casa, o termômetro do carro estava marcando 9C, mais frio do que o inverno em São Paulo e no Rio de Janeiro, com certeza.
Ficar agachada colhendo frutas na floresta dá a maior dor nas costas e por isso, lá pelas tantas eu me sento no musgo, na meio da floresta, para colher os mirtilos. Os arbustos são bem pequeninos e para colher a gente precisa se abaixar mesmo. Todas as vezes que eu saio para colher eu penso nas pessoas que fazem este trabalho pesado, colhendo agachados todos os tipos de alimentos. Haja coluna para aguentar ficar curvado por tantas horas.
Nas primeiras vezes que eu fui colher frutas na floresta eu tinha um certo receio de sentar, literalmente, no meio do mato, mas depois eu me acostumei pois não tem nenhum perigo. As florestas aqui são muito diferentes das matas brasileiras. Não há aranhas enormes, cobras, sapos, nem montes de insetos diferentes, ali praticamente não existe nenhuma criatura viva para nos atrapalhar. Mas claro que, lá pelas tantas, pode até aparecer um alce e aí a coisa fica feia.
O que eu quero dizer com isso é que a biodiversidade de uma floresta nórdica é muito pequena, pequeniníssima se comparada com a opulência de espécies das matas tropicais. Por falar em biodiversidade eu acabei por me lembrar de uma série de televisão sobre jardins que passa aqui aos domingos. É um programa apresentado por um arquiteto paisagista inglês e no programa do último domingo ele visitou o Brasil. Primeiro ele foi ao Rio de Janeiro onde visitou o sítio do Burle Marx e exibiu algumas das criações inovadoras daquele que ainda é o mais famoso paisagista brasileiro. Se estivesse vivo Burle Marx teria completado 100 anos de vida este ano. E acabei me lembrando de outra coisa. Em 1994 eu estava no plantão de sábado na Folha de S.Paulo quando o Burle Marx morreu e escrevi uma pequena biografia do Burle Marx que saiu publicada pela Folha de S.Paulo naquele domingo. Foi um texto pequeno, sobre o trabalho dele, pois não havia muito espaço já que a Folha de domingo já estava totalmente fechada desde sexta. POr Burle Marx, nós tivemos que fazer um milagre para encaixar as matéria no jornal que já estava quase todo rodado. Mas na segunda a Ilustrada correu atrás do prejuízo.
Enfim, depois do Rio de Janeiro o tal apresentador inglês foi para Manaus onde circulou por jardins construídos sobre embarcações no rio Negro. Com a maré extrema dos rios as populações não podem plantar nada ao redor das casas, que são costruídas sobre palafitas, por isso plantam em barcos. O apresentador, cujo nome eu esqueci, estava passadérrimo com tudo o que via. Era a primeira viagem dele à Amazônia e ele repetia diversas vezes que naquele pequeno perímetro, ao redor dos barcos, havia mais espécies diferentes do na América do norte inteira por exemplo.
Agora falando para os brasileiros apenas: Mirtilos, groselhas, framboesas e mais uma leva de cerejas (ou melhor, bagos) diferentes não são nada, nada mesmo, perto da diversidade que você vai encontrar se sair de sua casa e for andar pelo mato ao redor da sua cidade. Suba uma montanha, ante pela mata. No mínimo você volta para casa com um carregamento generoso de camapus , fruta de mato muito fácil de achar em qualquer canto do Brasil.
Por aqui mirtilos é o que temos e até o final o verão o nosso freezer vai ficar lotado pois nós saímos para colher toda semana. Eu vou poder fazer tudo o que eu quiser com as frutas. Me deu até vontade de comprar uma máquina de fazer sorvete, quem sabe. A tortinha de mirtilos que está começada na cozinha ficou para amanhã. A postagem sobre ela também. Hoje a noite não deu para fazer nada, nós ficamos mesmo foi no suco de mirtilos batido com suco de maça e iogurte de baunilha. Tudo de bom...
Mirtilos me lembram açaí, essa sim minha fruta favorita...
Comentários
Já fiquei com as mãos manchadas várias vezes, colhendo amora num sítio...
Vou parar por aqui, porque são muitas histórias desse convívio delicioso com a terra.
Cláudia, adoro suas histórias, me fazem recordar!
Ah, encontrei mirtilos a R$ 12,00, uma caixinha com pouco mais de 100g, pode?
Bjs.
o que eu posso te dizer é? Não compre. Com tantas frutas melhores e de graça ao teu redor para colher, comprar para que? Ainda que elas devam estar na estação no Chile, ou na Argentina. Mas R$12,00 é muito caro...
Hoje a gente colheu mais de 4kgs. Mas aqui, você sabe, não há frutas. Isso é tudo o que temos durante o ano inteiro...
Bj,
C.
parabéns!
Amanda
Maria
Esses trabalhos são muito duros, apanhar morangos por exemplo, também é muito difícil.
O que eu já fiz aqui em Portugal e também é muito duro quando feito durante muitas horas é a vindima, a colheita das uvas. Já fiz duas vezes e adorei a experiência, pq fiz uma hora mais ou menos, mas quem faz sempre e durante todo o dia sofre muito. Esses trabalhos são muito duros e muito mal pagos. Não é dado o devido valor ao trabalhador camponês.
Amei as fotos desse pequeno paraíso nórdico, como sempre.
Bjs
Voltei pra comentar 2 coisas: gosto muito de trabalho jornalístico e imagino a sua tristeza por um lado e empolgação por outro para fazer a biografia do Burle Marx.
Seus filhos vão crescer com a mesma paixão que você pela terra, por terem a possibilidade de colher, ainda que seja só agora.
Bjs.
eu estou sem fôlego! :)
Adorava ter passado esse dia aí com vcs, a colher mirtilos!
Esse cenário é idílico, parece uma cena de um filme: são lindas, essas plantas, têm uma cor espectacular! E as vossas mãos tb ficaram bonitinhas...
é, essa sensação de colher alguma coisa é mto boa mesmo, concordo.
Qto ao clima, imagine que aqui hoje mesmo esteve inverno no norte, outono no centro e verão no sul! Um país com apenas 700 km de comprimento...
bjs
A adaptação ao meu pardalinho rouba-me muito tempo, por isso não tenho tanto para bloguices:-)
Eu também adoro apanhar coisas lá na quinta, aliás é o que gosto mais :-)
Que lindos esses mirtilhos.
Bjs
Aqui compro umas caxinhas com 250g e olhe lá. Mas até que aproveito bem.
Só não faço cobbler, pois precisa de muita quantidade.
Achei engraçado as mãos de vcs, hehe.
Obrigada pelas felicitações ontem!
Bj :)
Uma pena ela ter se desfeito do local, que eu adorava!!
Os mirtilos por aqui, infelizmente são tão caros (aliás, as frutas vermelhas no geral, são caras, quando encontradas)... compro os congelados, mais em conta, mas só para fazer doces...
Beijo grande,
Mari
para nós essa colheita de berries é muito especial e diferente, o que dá uma certa inveja boa. Lembro-me de quando moramos na Alemanha e íamos colher morangos no Colha e Pague, em 1985 isso não existia por aqui e era absolutamente uma aventura para nós crianças!
Lembrei-me também das hortas que tínhamos na casa dos meus pais (onde moramos 20 e tantos anos), quando os tomates amadureciam, a salsinha crespa estava no ponto, o manjericão mal se aguentava de tão cheio, o alface pequenino nem conseguia crescer pois colhíamos antes, e tantas outras maravilhas como pés de Cajá-manga, goiaba (branca e vermelha), mangita, abacate, mixirica, acerola, banana, laranja, entre outras...penso que somos muito abençoados mesmo nesse nosso Brasil!
Pena que meu pequeno não tem acesso a isso...num apê é difícil...só quando visita os avós! Um dia vamos ter uma casa com isso tudo!
Beijos!
Vou ficar aguardando sua receita de torta de mirtilos! E quanto à máquina de sorvete, acho um investimento fantástico, pois você pode tacar qq coisa nela, sem conservantes ou gordura trans. Eu pilotava uma nos meus meses de confeiteira em restaurante paulistano... Sorvete de pistache caseiro, rosas, lavanda, mel, champagne... Até onde a imaginação te levar!
beijo azul
Onde colheste os Mirtilhos?
Beijinhos
Carla
Adoro mirtilos! O que me consola em não termos mirtilos por aqui é você dizer que praticamente essa época só tem isso por aí. Graças a Deus aqui no Brasil nós temos tantas frutas que se torna quase impossível conhecer todas.
Adorei as fotos, os mirtilos, na verdade gosto de tudo aqui no seu blog.
Beijão
Também adoro colher coisas ! Lembro da casa de férias que tivemos em Nova Friburgo onde eu ficava colhendo as pinhas do Pinus elliottii, que enchiam o chão do quintal !
Claro que colher frutas - e também flores ! - é até melhor, mas tenho poucas por aqui, apesar de morar num sítio: a terra é quase areia pura !
Ando passeando pelo seu blog, e estou gostando muito.
Beijo