Era uma vez um bolinho francês: financiers de limão



Um bolinho francês e a minha saudade

Este é um blog melancólico, saudoso, mas não triste (assim espero). Cada assunto tratado aqui está ligado a saudade que sinto de alguém, de coisas e de lugares, saudades que me matam por dentro, por isso pode soar meio melancólico. Ando super saudosa. Saudosa do Rio (claro), de Copacabana, da minha família, dos meus amigos e em especial do meu amigo Jorge Valim Medeiros de quem inesperadamente perdi o paradeiro e de quem já falei em outra postagem.

Todas as vezes que sinto saudades do Rio e dos amigos sinto falta de alguma comida que esteve nos envolvendo então. Pensando de amigos e comidas me lembra a imensa saudade que sinto da Traiteurs de France, uma padaria francesa ao lado do cinema Ricamar em Copacabana. Esta padaria era maravilhosa e eu era vizinha pois morava no prédio ao lado. Ao lembrar da padaria, onde ia com frequência, me lembrei dos financiers de limão e deu uma vontade danada de comer financiers que há muito tempo eu não fazia.



Financiers são uns bolinhos de aparência simples mas que são um delírio. Os financiers eram um dos meus bolos favoritos na Traiteurs de France, mas talvez o maior clássico de lá seja até hoje a torta mousse de maracujá. Durante os anos 80 eu acho que não havia aniversário no Rio de Janeiro sem a torta mousse de maracujá. A Traiteurs de France fica na Avenida Copacabana, 386 juntinho do antigo cinema Ricamar, do Copacabana Palace e da antiga Livraria Francesa e influenciou muito as sobremesas da cidade. Em pouco tempo a torta mousse de maracujá estava em todos os cantos da cidade. Eu fico triste por não lembrar os nomes dos chefs franceses que eram donos da padaria, mas fui checar: os chefs são Philippe Brie e Patrick Blancard. Um fazia os pães e o outro os doces. Se estiver no Rio e a fim de provar um macarons ou qualquer outra iguaria francesa passe lá. Hoje é uma mistura de restaurante com casa de chá mas ainda tem o balcão de vidro com os doces na entrada.

Assim, como eu uso muitas gemas de ovos e sempre tenho claras sobrando na geladeira resolvi fazer financiers.



Em geral faço suspiros com as claras que sobram pois é o que as crianças mais gostam. Como boa carioca eu também faço muito omelete de claras com queijo, presunto ou perú defumado. Uma coisa totalmente saudável e deliciosa. Hoje em dia o Per Olav também adora omelete de claras, que é um sabor que também deixa uma imensa saudade nele.


Esta receita de financiers eu tirei de algum jornal há muito tempo atrás, não lembro se foi do Jornal do Brasil, d'O Globo, Folha de S.Paulo ou talvez Claudia Cozinha, a revista. Fiz esta receitas muitas vezes em São Paulo e copiei para o meu caderninho de receitas sem referências a fonte. No Morumbi, meu último endereço em São Paulo, eu fazia estes bolinhos sempre pois achava uma farinha de amêndoas já pronta maravilhosa no Pão de Açúcar do Portal do Morumbi. Como é meu hábito, modifiquei a receita diversas vezes e esta aqui já está bem diferente da receita 'original'. Como hoje eu só tinha uma sobrinha de amêndoas tive que reduzir a receita e usei apenas quatro delas.




Financiers, fonte desconhecida.
Inspirado nos financiers de limão da Traiteurs de France no Rio de Janeiro.


6 claras
1 xícara de farinha de amêndoas, pode moer você mesma em casa se não encontrar nas lojas, mas no Pão de Açúcar tem.
1 xícara de farinha de trigo branca
2 xícaras de açúcar de confeiteiro
150 gramas (deve render de 125 a 135 gramas) de manteiga sem sal dourada (derretida e cozida até ficar no ponto de 'beurre noisette' com cor e gostinho de nozes)
Raspas de um limão
Uma colherzinha de café de extrato de baunilha

Como:

Primeiro derreta a manteiga e deixe a manteiga cozinhar até adquirir uma cor dourada, tipo caramelo, mas apenas levemente marrom. Cuidado para não queimar a manteiga pois aí, já era. Deixe a manteiga num canto mais quente da cozinha para ela não esfriar (No Rio qualquer canto é quente).

Bata as claras com a mão com um batedor de ovos ou um garfo mesmo até formar picos moles. Misture as farinhas e o açúcar e adicione-as as claras batidas. Então adicione a manteiga a esta mistura, sempre mexendo com o batedor tipo fouet. Por fim adicione as raspas de limão e a baunilha.

Divida a massa em forminhas untadas com bastante manteiga. Pode usar forminhas de tarteletes, de empadas, de quindim, de muffins ou as forminhas próprias de financiers que são umas forminhas retangulares bem baxinhas. Mas as formas de financiers tradicionais são dificílimas de se achar, pelo menos fora da França. Deve render uns 15 a 18 bolinhos do tamanho de uma empada de boteco.

Asse por 15 minutos a 200C ou até formar uma crostinha dourada na bordinha dos bolinhos.

A maciez deste bolo é impressionante e a cor escurecida da massa é por causa da manteiga que dá cor e um sabor bem marcante. Mas o perfume do limão dá um frescor maravilhoso. Também pode-se usar raspas de laranjas.

Comentários

Valentina disse…
Sou viciada em financiers. faco sempre que posso. já provei varias variaçoes. gostei de ler sobre omelete de claras.
Claudia Lima disse…
Vc acredita que nunca comi este bolinho?
Mas já tenho uma receitinha engatilhada há um tempinho que encontrei no blog da Nadia Lamas.
Eu só não tenho forminhas especiais, mas acho que não tem problema.
Eu imagino que sejam bem fofinhos e úmidos.
Bjs :)

PS: Comemos omeletes de claras todas as manhãs. Gostoso e saudável.
Unknown disse…
Gostei de ler sobre a padaria "Traiteurs de France" de Copacabana e o financier de limão. Só uma pergunta, não leva fermento? Um abraço.
Unknown disse…
Gostei de ler sobre a padaria "Traiteurs de France" de Copacabana e o financier de limão. Só uma pergunta, não leva fermento? Um abraço.
Claudia disse…
Heloisa,

Bolinhos como financiers e madalenas nao devem levar fermento. Eles nao crescem como outros bolos, apenas incham no centro, formam uma barriguinha. Se fermentar perdem a consistencia amanteigada, amendoada densa e macia. Fermentados ficam muito secos e farelentos. Afinal alem de nao levar fermentos, financiers tambem nao levam liquidos como leite e/ou agua.

Abs,

Claudia

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