Orgânicos como opressão? Pão de espelta e geléia de ameixa com cumaru



Com uma postagem que reforça meu desejo de utilizar produtos orgânicos sempre que posso, lembrei-me imediatamente de um artigo que li recentemente e que apresentava os resultados de uma pesquisa feita no Canadá sobre o comportamento dos chamados consumidores éticos. Consumo ético, de acordo com o tal artigo, é aquele que se baseia em produtos considerados ecólogicos, como produtos orgânicos por exemplo, produzidos de forma considerada benéfica tanto para o meio ambiente como para os consumidores. Mas o conceito de produto ético também inclui qualquer tipo de produto considerado comercialmente correto ou justo, em relação tanto aos sistemas de produção, como aos benefícios destes para o meio ambiente, a saúde dos trabalhadores e até mesmo a condição de vida dos animais envolvidos.



Os produtos orgânicos encabeçam a lista de produtos éticos, obviamente, mas não são apenas frutas e legumes que contam como éticos. Detergentes e desodorantes naturais e biodegradáveis, embalagens de papel reciclado, lâmpadas de baixo consumo de energia, embalagens recicláveis de todos os gêneros, baterias recarregáveis, laticínios de animais criados sem hormônios de crescimento e ovos de galinhas criadas livremente ciscando no campo (ao invés de amontoadas em gaiolas doentes) são outros exemplos.

Mas o que chama atenção são os resultados surpreendentes da pesquisa que gerou o artigo. A pesquisa apontou que os canadenses, diante da oferta crescente de produtos ecológicos e corretamente produzidos, consomem cada vez mais produtos dessa natureza. O artigo então mostra que o aparentemente positivo fato de consumirem cada vez mais produtos "verdes" no Canadá apresenta um efeito colateral grave. A contrapartida ao consumo ético seria o direito adquirido para ser anti-ético em algum outro momento da vida social. E os consumidores éticos pesquisados assumem que, depois da compra "ética", sentem-se no direito de serem indulgentes consigo próprios em relação a sua postura diante de outros aspectos sociais. A pressão para serem verdes levaria uma parte significativa dos consumidores a darem-se ao direito de serem desonestos ou desleais aqui ou ali, e tudo isso sem culpa.



O artigo Do Green Products Make Us Better People? de Nina Mazar e Chen-Bo Zhong (2009), da Universidade de Toronto, foi publicado pela Psychological Science e mostra a maneira quase absurda com que se dá o julgamento de valores no cérebro humano. O que mostra que depois de comprar ovos de galinhas caipiras, café orgânico ou leite sem hormônio o sujeito se sente no direito de xingar o motorista do carro ao lado, ultrapassar o limite de velocidade, estacionar em local proibido, cometer pequenos roubos ou ser anti-ético com um colega de trabalho ou um amigo. O consumo ético concederia à pessoa (na cabeça delas apenas) o direito de agir de forma socialmente indesejada em outros aspectos da vida. Isto tudo comprova que o consumo é muito mais do que uma escolha e está intimamente relacionado aos demais processos de socialização do indivíduo.

Eu consegui uma cópia desse artigo em PDF através do sistema de dados da NTNU, a universidade aqui de Trondheim, mas este é um sistema de acesso restrito e por esta razão não posso deixar um link aqui. Mas eu acredito que se alguém desejar ler o original em inglês talvez seja possível encontrar esse artigo, ou pelo menos uma versão curta com acesso livre na internet, através de busca pelo nome das autoras.



Pão orgânico de espelta

600 gramas de farinha de espelta integral orgânica
400 gramas de farinha de trigo comum orgânica
12 gramas de fermento ativo em pó seco
3 colheres de chá de sal marinho (cerca de 12 gramas)
700 ml de água em temperatura ambiente

Como:


Coloque a farinha, o sal e o fermento ( e uma colher de sopa de açúcar OPCIONAL) num pote grande e mexa com uma colher de pau para misturar tudo. Adicione a água e usando a colher misture até formar uma massa grudenta. Coloque a massa numa superfície limpa e trabalhe a massa sem bater, apenas dobrando e amassando, por cerca de 10 minutos, esticando a massa e dobrando a parte esticada por cima da massa ainda na mesa até obter uma massa macia que solta das mãos. Dobre as pontas da massa para dentro e coloque a massa num pote esfarinhado, cubra com um pote com um pano limpo e seco e deixe crescer por uma hora. Depois de uma hora retire a massa do pote e coloque numa superfície esfarinhada.

Divida a massa em duas partes iguais. Trabalhando uma parte de cada vez, abra um retângulo horizontal com cerca de 20 X 40 cm e dobre como se fosse dobrar uma carta, primeiro dobre a parte de cima até o meio e depois a parte de baixo até o meio e feche pressionando a borda. Coloque a borda para baixo e transfira para uma forma de pão untada e esfarinhada. Deixe que cresça por uma hora. Asse em forno pré-aquecido a 200C por 25 minutos ou até ficarem dourados.

Rende dois pães de forma com cerca de 850 gramas cada.




Esta geléia da foto parece ser mais uma geléia de ameixa comum, não? Mas não é. A adição da semente de cumaru transformou esta simples geléia e elevando-a a uma categoria superior, de especiaria ou de algo do gênero. As minhas geléias de ameixa jamais serão as mesmas depois desta, isso eu garanto. O aroma da semente de cumaru, que em geral lembra uma mistura de baunilha com canela, adquiriu, neste caso, uma conotação amadeirada muito parecida com o sabor da canela, mas uma canela mais complexa, mais penetrante, um sabor suave mas alongado, uma coisa de outro mundo, muito mais suave do que a geléia feita com a canela comum e muito mais complexo. É preciso experimentar para entender do que eu estou falando e se você está no Brasil compre já um saquinho de cumaru no mercado popular mais próximo de você e faça sua versão. Use pêssegos ou maças se não achar ameixas. Se você está na Europa talvez seja mais difícil encontrar cumaru que por aqui é conhecida como fava tonka.




Geléia orgânica de ameixas com cumaru


1,5 kg de ameixas orgânica lavadas e sem caroços
700 gramas de açúcar cristal orgânico
1 semente de cumaru
4 colheres de sopa de suco de limão verde

Como:

Numa panela de fundo grosso coloque as ameixas partidas e sem caroços, o açúcar, a semente de cumaru e o suco de limão e deixe que ferva em fogo alto. Quando a mistura começar a ferver reduza o fogo para médio-brando e deixe que cozinhe por cerca de 30 minutos e teste para ver ser a geléia está com a textura desejada. No meio do caminho use um espremedor de batatas para pressionar as ameixas para ajuda-las a se desfazer mais facilmente e formar uma mistura mais homogênea. A melhor maneira de testar é colocando uma colherinha de café da geléia fervendo num pratinho gelado. Coloque um pratinho na geladeira enquanto a geléia cozinha e na hora de testar retire da geladeira, coloque uma colheradinha de geléia fervendo no pratinho e confira a textura da geléia depois de um minuto. Se a geléia ficar tipo "quase" uma gelatina ela está no ponto. A geléia vai endurecer ainda mais depois de fria e por isso você não deve cozinhar mais do que o necessário para não desidratar os líquidos preciosos da mistura. Desligue o fogo e divida a geléia quente em vidros esterilizados (i.e. fervidos por 10 minutos e com as tampas lavadas com água fervendo) e ainda quentes. Feche os vidros sem pressionar demais e deixe esfriar totalmente. Quando esfriar as tampas vão "popar" e formar vácuo. Antes de transferir para os vidros retire a semente de cumaru da mistura e descarte.

Conservação:

Se você planeja consumir as geléias dentro de 30 a 60 dias não vai precisa ferver novamente os vidros cheios, mas mantenha os vidros na geladeira ou congele. As geléias estão protegidas contra bactérias por causa do açúcar que retira todo o oxigênio das bactérias e as destroi. Já o vácuo é necessário para evitar o aparecimento de mofo. Se você desejar conservar as geléias por mais tempo vai precisar ferver os vidros de geléia numa panela grande com água. Ferva por 10 minutos, retire da panela com cuidado e deixe esfriar totalmente. Abra os vidros apenas na hora de consumir.

Rende cerca de 1,8 litros de geléia.

Comentários

® disse…
Oi Clau,
Li todo o texto e confesso não entender a inversão de valores do ser 'humano'...
Infelizmente as pessoas vão em busca de modismo e isso é temporário, se tornam vegetariana, na defesa dos animais e quando a febre passa, voltam a crueldade e a falta de educação.
Muito me indigna isso minha amiga...
Não sou puritana no quisito alimentação 'verde' purinha e na exclusão por completo de carnes e seus derivados... tenho minhas limitações... mas, é inadmissível ver tanta violência de graça, ainda mais qdo vem de pessoas que dizem partilhar do ideal por um mundo melhor e mais correto...
Tenho me interessado pelos orgânicos, ontem escrevi para um sítio que faz entrega via net de cestas... estou aguardando retorno, pois estou no interior agora de sampa...
Confesso que pelo preço nas alturas muitas vezes tenho que mudar meu foco... aos poucos vamos melhorando..
Amei essa prosa de hoje...e receitas totalmente desconhecidas prá mim... como farinha de espelta e nem posso imaginar o sabor de ameixa com cumaru...
Tudo ficou realmente muito lindo, viu?!
Vamos aprendendo, né Claudinha?!
Um bejim bem grande procê minha cumadi...
pêéssi: desculpa pelo post nos comentários...:/
Gina disse…
Cláudia,
Só conheço cumaru dos blogs mesmo, mas se tem esse sabor que você falou, só pode melhorar o que já era bom.
É bem incoerente essa atitude que você descreveu. O ético é aquele que procura ser assim em todas as esferas. É questão de progresso moral.
Você faz a sua parte, disseminando o conhecimento adquirido e tentanto alertar as pessoas do engodo, muitas vezes, de produtos que fazem mal à saúde ou que não se tem segurança de ser benéfico.
Bjs.
Claudia disse…
Vinni,

Uma loucura o tanto de confusão que pode vitimar um cérebro humano. Mas o mais importante é que nem todos somos iguais e que se uns são confusos outros sabem o que querem e agem para criar um mundo melhor de verdade, em todos os sentidos.

Que ótimo estar no interior de SP, tem tanto lugar ótimo para se viver no Estado de S.P. que eu sinceramente não entendo os motivos que levam tanta gente a viver mal na capital. Além da maravilha de poder receber cestas orgânicas dos sítios da região... Ah, que inveja!

Gina,

A cumaru é uma maravilha e se na mão o perfume da semente parece demais com o da amburana (ambas tem muita cumarina) depois de cozida as cumaru adquirem notas amadeiradas, tipo canela, além do perfume doce característico enquanto a amburana é puro perfume. Os aromas da semente ficam mais interessantes quando a semente é cozida em alguma substância líquida.

O ser humano ainda tem uma longa estrada para trilhar antes de atingir o bom senso verdadeiro...

Beijos queridas,


Cláudia
Dani disse…
Que pão lindo, Cláudia!
Interessante o artigo, mas um tanto estranha a correlação das ideias. Agora, eu com certeza não acho que tentar ser um pouco ética na minha lista de supermercado me dá o direito de não ser tão ética assim nas outras coisas. Mas vai saber, e acho que consigo entender um pouquinho isto!
Eu procuro comprar tudo que posso orgânico, "free range" ou "fair trade", mas há umas coisinhas que são muito caras para o meu orçamento. Para manter o equilíbrio, estou tentando comprar menos variedade e mais qualidade. Em vez de comprar os 3 tipos de carne de vaca que compro quase todas as semanas - picada, moída e bifes -, diminuí para 2 e, às vezes, se ainda tenho outras opções no congealdor, só 1 - quero comer menos carne, o difícil é educar o parceiro em pratos mais leves, embora ele não seja totalmente hostil à ideia. Assim, comprei a versão orgânica dos bifes. E também do peito de frango e do pato ;-)
Farinha, açúcar, leite, manteiga, tudo que encontro orgânico, "orgânico est".
Mas aqui, nos círculos sociais no fim de mundo onde moro, há um certo preconceito: reciclar, produtos orgânicos são frescuras, sabe. Bom, a sogra comprou um frango orgânico outro dia - porque estava em oferta -, e eu expliquei porque era melhor, e o sabor estava tão bom - todos elogiaram sem saber - que ela pareceu um pouco mais convencida, e disse que compraria de novo.

Um beijo!
moranguita disse…
que belo pçao
adorei a receita simples e fica um pao como gosto escurinhpo
beijinhos e bom fim de semana
Nicole disse…
Oi, flor! No "como" você cita manteiga e leite, mas eles não aparecem nos ingredientes! Qual a proporção?

Obrigada e beijos,
Claudia disse…
Nicole,

Este pão não leva manteiga nem leite foi erro meu na hora de publicar as instruções. Mas vou corrigir já. O que esse pão pode levar é uma boa colherada da mel, junto com os demais ingredientes.

Obrigada,

Claudia
cris disse…
Olá, gostaria de saber onde conseguiu a farinha ou grão de espelta orgânica?

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