Pudim de coco, bolo cremoso de limão e a poesia...



Pessoas queridas, quanto tempo. Não sei como eu consegui ficar tantos dias sem escrever, simplesmente aconteceu. São tantas coisas por aqui. E porque a vida está uma loucura o blog ficou tantos dias parado. Para além do frio assassino, que esta semana está dando uma trégua (agora está entre -5C e -10C), eu ando ocupadíssima e olha que eu simplesmente detesto sair de casa no inverno. Mas o ano começou a toda, cheio de prazos finais e eu estou tentando colocar em dia meus planos e meus mais profundos desejos. Entre outras coisas encaminhei mais um pedido de financiamento para meu trabalho de campo de doutorado. Continuo tentando vender o meu peixinho para o Research Council of Norway e ver se consigo passar uns seis meses no Brasil, no nordeste trabalhando com os agricultores orgânicos do semi-árido.




Se a pesquisa for aprovada e as pedras rolarem a meu favor, desta vez circularei entre os Estados Rio Grande do Norte, Pernambuco e Bahia. Mas ainda não consegui o apoio que gostaria e a resposta pode demorar. Por muito tempo eu pensei que o financiamento de pesquisa a nível de doutorado seria mais fácil, mas não corresponde a realidade. Os projetos são bem limitados e as instituições estão atrás de pessoas para aderir aos projetos já estabelecidos e não em introduzir temas, ou problemáticas novas. Enquanto isso eu canto, porque o instante existe e a minha vida está completa... e a poesia de Cecília Meireles não me saí da cabeça estes dias e tem me dado o maior prazer ler sua poesia.




Sempre vi poesia como uma espécie de espelho, capazes de refletir todos os estados de espírito, todas as facetas da vida humana, sempre em seus melhores ângulos. Pelo fato de meus pais amarem poesia eu cresci numa casa cheia de livros de poesia, onde obras de Manoel Bandeira, João Cabral, Drummond, Ferreira Goulart e Vinicius, só para citar alguns dos favoritos dos meus pais, ocupavam lugar de destaque nas estantes. Em minha vida estive cercada por amigos e amores apreciadores de poesia e achei meus favoritos também. Naturalmente, é bem mais fácil viver com almas parecidas, não? Dia desses eu achei por acaso uma pequena antologia da Cecília Meireles, velha, usada, que estava esquecida no meio das minhas coisas e isto me fez tão bem, foi como me auto-oferecer uma surpresa. Faltam-me livros em português por aqui, sempre que posso compro, peço, ganho... Quem gosta de poesia certamente me entende, a gente se pega com o livro, a mente voa e o corpo relaxa, invadido por uma sensação única de felicidade correspondida...



Motivo

(Cecília Meireles)

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste :
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
Não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
– não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
– mais nada.






Bolo cremoso de laranja e limão

Mais uma versão desta receita aqui



2 ovos separados
100 gramas de açúcar
200 ml de leite (usei desnatado)
30 ml de suco de limão verde
30 ml de suco de laranja
30 gramas de farinha (duas colheres de sopa bem cheias)
1/2 colher de sopa de raspas de limão verde
pitada de sal

Como:

Num pote bata as gemas com o açúcar, adicione as raspas, os sucos, o leite e a farinha. Adicione as claras em neve com a pitada de sal e mexa suavemente com uma espátula ou colher de pau para incorporar sem perder volume. Divida a massa em cinco potinhos individuais untados com bastante manteiga e esfarinhados. Use potinhos refratários para pudim, cremes ou suflê e coloque-os num tabuleiro grande, coloque água fervendo na forma sem cobrir mais do que metade da lateral dos potinhos e asse por 30 minutos a 180C em forno pré-aquecido ou até que fiquem levemente dourados.

O resultado é um bolo cremoso que fica no meio do caminho entre um bolo e um pudim e que pode ser desenformado quando estiver totalmente frio.



Apesar de estar cozinhando feito louca, eu andei deixando as sobremesas de lado durante as últimas semanas. Estou totalmente focada nos pratos salgados e talvez o frio esteja influenciando um pouco as coisas. Mas ando sem muita vontade de doce, estou comendo pouco. Ando sem fome e ansiosa, mas durante a semana que passou eu repeti o pudinzinho de coco para aliviar meu estômago cansado. Adoro a mistura de coco com manga e coco com maracujá. Por isso eu fiz duas caldas para acompanhar. A de maracujá ficou um sonho, totalmente recomendo.

Já o bolinho cremoso de limão eu não comi, provei a colherada da foto e passei a bola para o Per. As crianças amam bolo de limão e este bolo é um sucesso absoluto. Nós comemos morno na forminha de porcelana, mas depois de frio pode ser desenformado sem problemas.




Pudim de coco com caldas de manga e maracujá

mais uma versão desta receita aqui

400 ml de leite de coco integral
400 ml de leite desnatado
125 ml (meio copo de 250ml) de açúcar
4 folhas de gelatina

Como:

Numa panela de fundo grosso coloque o leite de coco, o leite e o açúcar cozinhe em fogo médio até ferver. Enquanto o leite cozinha amoleça as folha de gelatina em água fria. Quando a mistura de leite de coco ferver retire a panela do fogo, escorra as folhas de gelatina amolecida até escorrer bastante água e adicione a gelatina amolecida à mistura de leites e mexa bem para dissolver a gelatina totalmente. Volte a gelatina ao fogo se precisar de mais calor para dissolver. Distribua a mistura em tacinhas ou xicaras de café ou potes de vidro. Deixe esfriar e leve para gelar por pelo 3 horas antes de servir. Sirva com calda de maracujá ou manga...

Rende 6 a 8 porções.



Alguns poemas favoritos de Cecília Meireles: Motivo , Aceitação e Retrato

Comentários

Carolina Andrade disse…
Clau, eu gosto muito de lerm mas literatura e poesia não me atrai!! Agora alguem declamar uma poesia, ai acho um encanto!! Mas esse bolo cremoso me deixou a babar, outro encanto..Beijão
Claudia disse…
Carol,

Sabe que eu gosto de ouvir poesia, mas prefiro ler, me deixa mais a vontade para sentir as palavras. Mas não desista de tentar de vez em quando!

Já o bolo é simples mas poderoso, de sabor intenso...

Bj,

C.
Claudia,
Ainda hoje lembrei de você. Achei que havia sumido porque estava arrumando as malas.
Mas vc voltou com tudo: poesia, doces, fotos.
Beijo.
Claudia disse…
Heloísa,

Já estou com as malas praticamente prontas, faltam alguns presentinhos... mas são tantas coisas para fazer antes de viajar que você nem imagina!

Bj,

C.
Gina disse…
Cláudia,
Tomara que você consiga financiamento para sua pesquisa de campo. Já pensou, 6 meses livre desse frio?
Para agradar a gregos e troianos você acaba fazendo logo duas maravilhas de doces. Tanto a laranja quanto o limão, aliás os cítricos em geral, me agradam muito.
Bjs.
Paula Mello disse…
Clau, poesia com manga e maracujá? Tem coisa melhor? Adoro Cecília, Drummond, Caetano...
Uma semana iluminada!
Susana Gomes disse…
É sempre um deleite passar por aqui.
Pelas fotos, pela escrita, pelas receitas e agora tb pela poesia, que eu adoro.

Beijinhos. :)
amor e sabores disse…
Passei por aqui e encantei me, parabens pelo blog.Adorei a escrita, a poesia e as receitas..
Obrigada por toda essa partilha.
beijinhos
Dani disse…
Acho que todas estávamos com saudades da sua presença aqui! Também mal tenho escrito, mas é mais por falta de assunto.
Adoro a Cecília, uma vez fiz um estudo-retrospectiva dos seus poemas. E esse é particularmente lindo.
Olha, "de figas" aqui para o seu financiamento sair! Só é possível pelo Council Norueguês? Você não consegue um patrocinador em outra entidade que esteja interessada nesta linha de pesquisa?
Ontem comprei maracujás também, para fazer calda para algo que não sei. Acho que uma panna cotta simplinha. E adorei a receita do bolo cremoso, sobremesas cítricas são as minhas prediletas juntamente com as de chocolate.
Beijos, muita boa sorte!
Luciana disse…
Claudia, que bom que voltou a postar. Estou torcendo para que você consiga esse financiamento e vá fazer esse trabalho lá no RN.
Lindas fotos.
Beijo
Carolina Macedo disse…
Não conhecia o seu blog e adorei!!!
Adorei a sua escrita, as receitas, as fotografias são lindas... As suas paisagens também!!! A Noruega é linda e eu adorava conhecer, mas nunca tive possibilidade, só no verão...
Já me tornei seguidora porque este blog é viciante!!!
Beijos*
Isabel disse…
Cláudia,
o poema é lindo, lindo.
E claro que fiquei com vontade de provar esse pudim de coco com calda de manga, huum que inspiração!
Espero que você consiga esse financiamento para trabalhar seis meses no Brasil.
Espero muitos posts sobre esses estados do norte do Brasil :)
Bjs
♥ mesa para 4 disse…
Primeiro que tudo muita sorte com o teu projecto, espero que consigas mesmo...depois as iguarias oh ceus que maravilha...por fim o que eu gosto ainda mais, a neve, o frio tudo branco a combinar com poesia...que mais posso dizer senão...Obrigada :)
Carolina disse…
Sou fã de Cecília Meireles, ela tem poesias lindíssimas. Ah, e esse bolo de limão e laranja está dando água na boca.
Boa sorte com o financiamento.
Abraço
Claudia Lima disse…
Os meus pais nunca tiveram o hábito de ler, que dirá poesia. Já a minha irmã, mesmo sem exemplo, sempre foi uma devoradora de livros. Eu sou preguiçosa para leituras, mas leio um pouco.
Hoje fico com o creminho cítrico. Adoro!
Boa sorte no seu projeto!
Bjs :)
Sarah disse…
Claudia, acabei de postar os presentes que me mandou! Dá uma olhadinha...como chegou tudo perfeitinho! A geléia é divina!!!

Obrigada mais uma vez pelo carinho!

Bjosss
miosotiis disse…
:)

Os livros sempre me fascinaram, desde miúda. Lia tudo o que havia para ler, porque só a palavra "livro" despertava em mim interesse.

Quando cresci e me tornei uma menina, enamorei-me pal poesia. Cadernos e cadernos e folhas de poemas escritos em jeito de diário em verso.

Todos os poetas brasileiros que citaste são referências para mim. Porque me falam baixinho ao ouvido e porque com eles partilho momentos.

Ferreira Gullar é talvez dos menos conhecidos da lista, pelo menos por cá, mas foi o meu autor escolhido para um ensaio durante a minha pós graduação em literatura portuguesa e brasileira. E sempre que posso, depois de um jantar entre amigos, os livros saltam das estantes e sentam-se à mesa connosco.

*patrícia
Gina disse…
Cláudia, esqueci de comentar sobre a poesia. Meu pai declamava e ficou famosa entre os familiares e amigos uma extensa e dramática poesia que ele declamava... Gravei-o declamando, na última viagem que fiz para visitá-lo, antes da derradeira... Sua voz já não tinha a mesma intensidade, nem sua memória permitia que se lembrasse das 30 estrofes, mas deixou uma ponta de humor ao cantarolar: "e o resto eu esqueci..."
Esses versos são do meu filho, que estão em seu blog, embora não esteja atualizando (http://viniciuscastro.blogspot.com/)
"De manhã, dependendo do intento,
Acordo de acordo com a cor do firmamento."
"O poeta, todo prosa com sua poesia,
Não sabe que aos poetas
Às vezes escapa a poesia da prosa!"
Bjs.
Marly disse…
Oi, Cláudia,
Ah, eu faço parte da turma que ama a poesia. Uma boa poesia muitas vezes sintetiza um universo de impressões e/ou emoções, e o grande mérito dos bons poetas está em conseguir expressar em palavras, aquilo que para a maioria de nós é indizível. Também gosto da Cecília Meireles, acho a obra dela bastante sensível. Sabia que a música 'Canteiros' gravada pelo cantor Fagner foi baseada na obra da Cecília Meireles?
"Quando penso em você fecho os olhos de saudade, tenho tido muitas coisas, menos a felicidade...".
Eu gosto muito dessa música.
Agora, essas sobremesas, o bolo cremoso e o pudim me fizeram salivar, aaff!
moranguita disse…
hm que bom esse bolo cremoso eu vou levar a receitinha para experimentar la em casa
beijinhois
Cláudia Marques disse…
Tudo inspirador!
Fui ouvir o Paulo Autran a declamar poesia, que bonito. E este poema que tens aqui é muito bonito também. Ultimamente tenho andado meio afastada da poesia, fiquei com saudades.

Mas tb fiquei fascinada com a cremosidade desse bolo de limão e laranja, vou fazer com certeza.

beijinhos
Noémia disse…
Já andava a estranhar a tua ausência.
Ainda bem que tudo está bem, com doces tão bons e apetitosos.
Espero que consigas esse financiamento e te consoles no calor do Brasil, carregues as tuas pilhas, te reconfortes e sejas feliz!:)
Cininha disse…
olá claudia
Eu gosto muito de lêr mas poesia não me prende, tenho pena, mas se calhar não fui habituada a ler e não entendo muito.
Espero que consiga esse financiamento, para, para além de fazer o que gosta poder passar algum tempo na sua terra tão amada :-)
Os seus docinhos estão com um ar divino, nem sei qual gostei mais, acho que já comia um bocadinho de cada :-)
bjs
Fabi disse…
Menina, antes de mais nada, deixa eu te falar: a-do-rei teu blog! Cheguei aqui por acaso, tava procurando uma receita de flan, acabei achando um post seu... Mas me encantei com o blog por inteiro e resolvi fuçar mais :)
Essa poesia de Cecília Meireles é minha favorita, lembro-me de tê-la recitado no colégio, no tempo que eu ainda era jovenzinha (agora beiro a idade das musas de Balzac), kkkkkkkk.

Ganhou uma seguidora! Bjocas :****
Luciana Espejo disse…
Oi Claudia, td bem? Passeio sempre por aqui e admiro muito seu texto e principalmente as suas fotografias, que são fantásticas.
Sabe que tudo que está distante da nossa realidade nos fascina. Essa neve toda, esse tapete branco na sua janela, esse vapor misterioso, tudo isso, a primeira vista, é encantador. Mas lendo seu texto, percebo o quanto é difícil. Você é muito forte. Mas se há consolo, vou lhe dizer: as coisas aaqui tb não vão bem. SP está sofrendo com as chuvas, mais de 60 pessoas já morreram desde janeiro. Estamos reféns do clima, pois SP não tem estrutura para tanta água. O trânsito vira um caos, as pessoas não conseguem voltar para casa dps do trabalho, deixam de marcar compromissos. Isso sem falar nos menos favorecidos, que são os que mais sofrem. Todos os dias notícias horrorosas na TV.
Mas, nada como um dia depois do outro... Vamos indo.
Parabéns pelo blog.
E paciência quanto ao seu projeto. Tb sou doutoranda e sei o que é isso. Porém, eu não perco a fome (que pena!)
beijos, Lu

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