Moços emocinantes e creme cozido com iogurte e mel


Fazia um tempo que Per e eu não íamos ao cinema sozinhos. A vida com duas crianças aqui na Noruega, longe da família, não cria muitas oportunidades para sairmos sozinhos. Uma vez ou outra aparece uma chance de sairmos sozinhos. Quando rola é sempre meio por acaso e nós não temos nada planejado para fazer. Nestas ocasiões o que sempre fazemos é jantar fora e ir cinema. Mas já está de bom tamanho para um casal que nunca saí sozinho, não é mesmo? Fomos ao cinema num daqueles centros de exibição com 10 salas e em geral 10 opções diferentes de filmes.

Eu cheguei no local totalmente desorientada, sem ter a menor idéia do que eu queria ver nem do estava passando em Trondheim. Falei: vamos ver Vicky Cristina Barcelona ( só o que me veio a cabeça foi Woody Allen). Mas claro que Vicky Cristina Barcelona já tinha ido embora de Trondheim faz tempo, agora para mim só em DVD. E o que ver então? O Per queria ver, eu já sabia, Revolutionary Road, o filme com o Di Caprio e a Kate Winslet. Já que não tinha mais Woody Allen com Javier Bardem eu pensei em 'en julfortelling' ('a história de um natal') um filme francês com a Catherine Deneuve. Tinha uns quatro filmes franceses em cartaz e um outro francês que parecia interessante era 'klassen' (a classe).

Atores e atrizes são a atração de um filme, não? A Catherine Deneuve, por exemplo, me leva a ver qualquer filme. Gosto muito de ver filmes com um rosto familiar, com alguém com quem me identifico, que amo. Sim, eu amo alguns atores de cinema, em geral homens. E ontem a seleção de moços não era das mais interessantes (de acordo com esta que vos escreve). Até que eu percebi, vendo os telões com os trailers dos filmes em cartaz, que o filme que eu queria ver não estava passando ali naquele cinema, mas num outro da mesma rede não muito longe dali. Como Per é um cavalheiro, um homem super paciente e generoso, na hora foi buscar o carro (já devidamente estacionado) para irmos ao outro cinema ver o filme com o ator que eu adoro.
O ator em questão é o noruegues Bjørn Sundquist (na foto de cima com cigarro), um ator de teatro que me seduziu totalmente em vários filmes antigos e em uma série de televisão fantástica. O cara é uma espécie de medalhão do teatro nacional da Noruega. Bjørn Sundquist é premiadíssimo no teatro, faz muito cinema e as vezes televisão. Eu me apaixonei por ele principalmente depois da série de TV Berlinerpoplene e do filme O Telegrafista. Minha paixão por Bjørn Sundquist se encaixa totalmente no meu estilo preferido: homens comuns, com rostos comuns, vividos e sofridos. Combina totalmente sentido com minhas outras duas paixões: Bruno Ganz (na foto a esquerda de chapeu) e Marcello Mastroianni (na foto abaixo). Eles até que se parecem. Eu vejo grande semelhança nos narizes e os olhares.
Olhem com cuidado as fotos para perceber que os rostos destes moços meio que se parecem. Além disso eles são todos talentosíssimos e conseguem me emocionar profundamente com a arte deles. E fomos ao outro cinema e Per perguntou se era aquele filme mesmo que eu queria ver. E eu, sim, claro. Um filme noruegues no cinema é sempre um desafio já que filme noruegues na Noruega é sem legendas em qualquer língua e isso representa sempre um desafio para mim. Quando vemos em casa acionamos a famosa tecla sap e tem sempre legenda para eu ler o noruegues. Explico, leio bem em noruegues mas tenho uma grande dificuldade para entender quando eles falam. É uma língua com muitas sonoridades diferentes e com formas regionais diferenciadas. Enfim, uma língua muito difícil de entender quando eles falam entre eles.
Como falei, as opções de moços em exibição no cinema eram variadas, Leonardo e Kate, Hugh Jackman e Nicole (naquele filme assustador Australia que só de ver o trailer com aquela motanha de cenas clichês dá enjôo), Colin Farrell numa comédia, John Malkovitch com Angelina Jolie, Jim Carrey, Brad Pitt e Cate Blanchet no tal Benjamim Button, os jovens vampirinhos, o ratinho Desperaux, uns 3 ou 4 filmes franceses e o Phillip Hoffman Seymour (de padre) com a Meryl Streep, um outro norueguês Max Manus sobre o período em que a Noruega esteve ocupada pelos nazistas alemães e montes de outras bobeiras. Passei por todos eles sem piscar. Fomos ver Mr. Bjørn Sundquist e seu Jernanger. Este era o filme da semana que tinha estreiado no dia anterior e estava inclusive na capa da revista da programação de cinema. Um filme bem meu estilo. Uma mistura de 'Segunda-feiras ao sol' com 'Olhos Negros', sabe como é? É que a comédia-dramática norueguesa tem um tanto de melo-drama espanhol e um tantão do senso de humor negro russo. Precisa ler muito Ibsen para entender o senso de humor e de tragédia desta gente nórdica, mas Ibsen sem dúvida descreve seu povo muito bem.

Jernanger é o nome do barco do personagem de Bjørn Sundquist, Eivind, um homem norueguês do mar, um Sami do norte da Noruega. Eivind deixou para trás, no norte, seu povo e o amor da vida dele. Ele nunca superou a perda do amor e, depois de 30 anos, tem uma nova chance de ser feliz e estraga tudo. No meio de tudo ele encontra por acaso um moço novo, de 25 anos, que de certa forma está repetindo a história de Eivind, deixando para trás o amor da vida dele para sair pelo mundo de navio. Eles se ajudam e se salvam. No final, depois de algumas reviravoltas, risadas e choros as coisas mudam para o jovem mas estão definitivamente perdidas para Eivind. O filme é muito lindo. O personagem principal é um norueguês 'puro', extremamente apaixonante interpretado magistralmente por Bjørn Sundquist.

Jernanger é um filme super emocionante. Sem sombra de dúvida muito melhor do que todos os outros que estavam passando nas demais salas. No entanto, Bjørn Sundquist em Jernanger muito provavelmente nunca vai aportar no cinema mais próximo de você. Ficará restrito ao público de festivais e ao público escandinavo. Uma pena, pois mas a maioria de nós vai ver, ou vai ao menos ouvir falar, de todas as bobagens feitas pelo cinema comercial dos EUA. E ver o cinema dos EUA é para mim como deixar de comer um doce feito com a fruta fresca para comer outro feito com aroma artificial da mesma fruta. Não se compara com as histórias dos cinemas de verdade. Veja o trailer de Jernanger



Chegamos em casa cedo e para nossa alegria tinha creme cozido (panna cotta) já gelado pronto para comer. Bastou colocar um fiozinho de mel e decorar com as últimas cerejas da festa argentina.

Creme cozido com iogurte e mel

2 xícaras de iogurte natural (integral ou desnatado)
2 xícaras de creme de leite
1/2 xícara de mel
1/2 xícara de açúcar
1/2 xícara de água
4 colheres de chá de gelatina em pó (calcule uma colher para cada xícara de líquido)
Raspas de uma fava de baunilha (ou 1 colher de chá de essência)

Como:

Misturar o creme, o açúcar e as raspas de baunilha numa panelinha e levar ao fogo médio. Se for usar baunilha em essência misturar ao iogurte no final. Mexer o creme até ferver. Retire do fogo e deixe de lado. Num potinho amoleça a gelatina em pó na água. Adicione a gelatina amolecida à mistura de creme de leite e leve ao fogo novamente mexendo sempre até derreter a gelatina totalmente. Retire do fogo. Num pote misture o mel ao iogurte até incorporar totalmente. Misture o creme à mistura de iogurte e mel até incorporar totalmente. Divida os cremes em potinhos e leve para gelar. Servir acompanhado com mel ou calda de frutas.

(Panna cotta com calda de cerejas)

Adaptado de uma receita de Martinha que pode ser lida em inglês veja aqui

Fotos de divulgação do filme Jernanger têm reprodução livre. Foto de Bruno Ganz é uma foto de divulgação do filme Vitus. Foto de Marcello Mastroianni também é uma foto de divulgação do filme Olhos Negros.

Comentários

Claudia,
Acho muito gostoso esse programa de jantar e cinema, principalmente quando o filme é bom.
Acredita que por aqui estão passando todos os filmes que estão aí? Com exceção do que você assistiu. Aliás, nem sei se os filmes noruegueses chegam por aqui.
O da Catérine Deneuve, que aqui recebeu o nome de Um conto de Natal, deve ser bem angustiante porque gira em torno de desentendimentos sérios em família. "O curioso caso de Benjamin Button" parece estar recebendo uma boa crítica, assim como "A troca", do Clint Eastwood, com a Angelina Jolie.
Gostosa, também, deve ter sido a volta para casa, com a deliciosa Panna cotta, não?
Beijos
Isabel disse…
Cláudia, nunca vi um filme norueguês. Nunca chegam aqui, assim como os filmes portugueses também não devem chegar aí. Os filmes europeus que passam por aqui são os franceses, alguns italianos e um ou outro sueco. É pena porque o cinema europeu tem muitas vezes uma visão bem interessante das relações humanas e da vida em geral. Esse deve ser interessante. Dos filmes americanos que falas, vi dois e gostei: A troca e A estranha história de Benjamin Button que é um belo filme também.
Bjs
Anônimo disse…
Querida, eu adoro filmes que não seja comercial, será que virá para o Brasil?!
Bjss
Olá Cláudia!!

Embora nunca tenha sido como algumas pessoas que conheço que vão ao cinema a cada fim-de-semana ou veêm 2 ou 3 filmes seguidos, eu costumava ir muito regularmente ao cinema.

Aqui em Palma, deixei completamente esse hábito porque os filmes são dobrados para espanhol e não posso deixar de achar rídiculo ouvir as vozes dos actores de sempre adaptadas ao castelhano...ehehe!

Também gosto muito de cinema europeu, de filmes que façam pensar ou que exijam aquele silêncio final para a reflexão...são filmes mais marcantes, mais reais e mais vibrantes do que a maioria dos filmes americanos.

Ainda bem que conseguiu ver o filme que queria e que teve o cavalheiro perfeito para resolver a situação... Com a promessa dessa pannacotta com cereja no final, não há como não cair aos seus pés!;)
Cininha disse…
Há anos que não vou ao cinema, sou um bocadito comodista para sair de casa, prefiro ver na televisão :-)
Olhe claudia tenho um desafio para si lá no meu blog, como gosto muito de ler o que escreve, não resisti a passar este desafio.
bjinhos
Claudia Lima disse…
Jantar fora e ir ao cinema são coisas que sempre adoro fazer.
Nem preciso dizer que aqui estes filmes não chegam mesmo, mas a história parece muito boa.
Eu acabo por me contentar com o que oferecem, pois gosto muito de cinema.
O Panna Cotta ficou lindo, amei a foto!
Bjs :)
Claudia disse…
Helô,

jantar e cinema é ótimo mesmo. Principalmente sem esperar já que o passeio das crianças foi inesperado. Os filmes em geral são os mesmos, pena, pois os distribuidores tem muitos interesses por trás. Mas eu preciso te falar que ando meio cansada do cinemão, das mesmas caras. Num aguento ver nem Angelina nem Brad por exemplo.

E sabe que os filmes noruegueses passam no Brasil mas em geral na mostra de SP e no círcuito Estação. Filmes suecos, dinamarqueses e noruegueses se parecem muito.

Isabel,
Talvez seja difícil passar filmes noruegueses em Portugal mas aqui passam filmes portugueses sim. Passam filmes de todos os cantos do planeta. Eles também produzem muitos filmes por ano e exibem tudo. Passam todos os filmes brasileiros, eu é que não tenho chance de ir ver. E, claro, não ficam muitas semanas em cartaz. Nada aqui é dublado (dobrado) e eles exibem todos os tipos de filmes inclusive na TV. São um povo super aberto, mas é claro que as produções americanas dominam. Mas aqui há espaço até para os filmes de Bollywood, que também passam.

Nana, estou com você. As grandes produções, os chamados filmes comerciais, são feitos pra agradar e gerar dinheiro, meio falso, né? Superficiais. Não me seduz. Mas sou (somos) esquisitonas!

Leonor, o cinema europeu é grandioso e grande poder na hora de contar histórias. Non me gusta o jeito americano de contar histórias. Mas não quer dizer que eu não veja. Claro que vejo, e muito. Mas dobrado (dublado) não dá. É realmente ridículo. Ainda bem que aqui eles não dublam nada além de desenhos para crianças.

Alcina, obrigada pelo convite para participar do desafio. Você não é diferente da maioria de nós. A vida as vezes é tão cheia que não dá vontade de sair para ver no cinema aquilo que pode-se ver a TV. Eu saio muito pouco e quando saio vira assunto (hahaha!) e tenho que escrever sobre o assunto.

Clauzinha, os americanos não gostam de competição se não for para eles ganharem, né? E no cinema eles nem aceitam ouvir uma língua que não seja a deles. Morando nos EUA eu tenho certeza que sua oferta deve ser bem restrita. Mas eles também fazem filmes bons. Aqui os norueguese são muito abertos e curiosos. Passa dectudo, ainda bem, pois eu gosto de diversidade.

Beijos,

C.

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