Para além do bem e do mal (*): alimentos orgânicos, pesticidas e eu



As pessoas são diferentes, não há duas pessoas idênticas, cada um é de um jeito, cada corpo funciona de uma maneira, é comandado por uma cabeça diferente e carrega uma história de hábitos pessoais. Por isso os médicos não se cansam de falar que uma dieta ou um medicamento que serve muito bem ao corpo de uma pessoa pode não se encaixar no corpo de outra. Eu menciono isto pois quando eu escrevo sobre a minha decisão de deixar de comer certas alimentos eu faço isto em função da minha vontade pessoal, da minha necessidade de comer bem para me sentir bem e não para ficar inchada, enjoada, pesada, intoxicada e com a consciência dolorida. Mas esta é uma decisão minha, baseada na minha história pessoal, nos meus hábitos e no meu presente. Gostar de comer bem e comer saudável é uma coisa que faz sentido para mim e o que eu considero saudável é não está escrito nos rótulos do supermercados, é uma opinião bem pessoal.

Por isso, não se sinta pressionado, nem influenciado, nem assustado com o que eu escrevo aqui. Continue vivendo da maneira que acha correta, mas entenda que tem gente vivendo diferente por sentir necessidade disso. Se você tem dúvidas sobre os assuntos que eu vou tratar aqui, vá atrás de informações e se esclareça e não faça nada sem consultar seu médico ou um nutricionista. Informações sobre esses assuntos estão disponíveis em todo canto, orgãos de imprensa e publicações especializadas estão recheados de informações sobre pesticidas e riscos apresentados por alimentos contaminados.





E minha decisão de parar de consumir alimentos produzidos a base dos pesticidas é extremamente pessoal, porque eu sinto imensa necessidade disso e já expliquei os motivos aqui. Eu acredito que todos, principalmente as pessoas que tem crianças, deveriam se informar mais sobre os alimentos, levar em consideração o estilo de vida pessoal e os históricos familiares e cuidar da alimentação. Mas esta é só a minha opinião e eu sou uma pesquisadora de agricultura e não de saúde.

Apesar disso eu percebo que a mudança dos hábitos alimentares, em função das muitas campanhas de combate à obesidade que defendem os benefícios do consumo de cinco frutas ou vegetais por dia, pode significar um aumento no risco de contaminação por pesticidas e transformar um benefício em um risco. Mas uma pessoa informada sabe escolher as frutas, sabe como trata-las e a melhor forma de servi-las e por isso é importante conhecer as listas da Anvisa e batalhar para que a agência continue aumentando o número de amostras analisados anualmente. Se você puder, prefira os alimentos orgânicos, ou aqueles vegetais e frutas que crescem livres no quintal do seu vizinho ou da sua tia. Aquelas frutas de árvores do sítio da sua mãe ou avó, sem pesticidas, e que ficam ali até serem devoradas pelos pássaros. No Brasil eu sei que a coisa é bem assim pois eu sempre me esbaldei com as frutas das casas dos amigos e familiares.





Por inúmeras razões pode não ser possível para você consumir apenas alimentos orgânicos e por isso é fundamental acompanhar as listas publicadas anualmente pela Anvisa no Brasil. A Anvisa analisa anualmente milhares de amostras dos alimentos mais consumidos pelos brasileiros nas cinco regiões do país. Os alimentos cujas culturas apresentam níveis acima dos limites considerados seguros pela ANVISA são listados oficialmente e disponibilizados por toda grande e pequena imprensa no país. O seu jornal local já deve ter publicado essas listas diversas vezes já que a Anvisa divulga este programa desde 2001. Eu preparei duas tabela com os vilões e os alimentos mais seguros para consumo.



(Lista feita apartir de estudo da Anvisa publicado em 2010)


(Lista feita apartir de estudo da Anvisa publicado em 2009)


(Lista feita apartir de estudo da Anvisa publicado em 2010)


A lista é atualizada anualmente e pode variar significativamente de um ano para outro e de região para região e os produtos considerados inseguros são aqueles cuja média nacional ficou fora dos padrões da agência. Em cada país há uma agência que regulamenta e analisa a qualidade da produção dos alimentos, avalia as amostras de produtos colhidas nos mercados regionais ou nas fazendas. Os produtos avaliados são escolhidos levando em consideração a cesta básica de cada país já que são milhares de amostras sendo analisadas a cada ano.

No caso do Brasil as agências estaduais testam e disponibilizam seus resultados e a Anvisa faz a tabela nacional indicando os produtos mais contaminados e, por consequência, os menos contaminados. A ação constante das agências nacionais pode mudar o resultado significativamente de um ano para outro e foi possível observar isso recentemente no Brasil quando a ação da Anvisa mostrou uma redução significativa do índice de contaminação de alguns alimentos nos últimos anos.

(Tabela do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos da ANVISA com a lista dos produtos analisados, o total de amostras analisadas e número de amostras consideradas impróprias nos 26 Estados do Brasil. Na tabela A: Representa o número total de amostras analisadas por produto por Estado e I: representa o número de amostras consideradas impróprias por produto por Estado. Clique na imagem para aumentar a tabela).



Clique no link para conhecer o site da Anvisa e se você quiser baixar o PDF com o relatório completo do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos clique aqui.





Diferenças nacionais e regionais

Se você observar as listas de produtos contaminados do Brasil e dos EUA vai perceber uma certa difetrença entre produtos. Assim como listas regionais do Brasil, EUA e Europa. Na Europa há um cuidado grande na hora de acusar nações "irmanadas" pelo uso excessivo e por isso a União Européia até hoje foi mais taxativa em relação ao uso de alguns produtos tóxicos. Na Europa a indústria precisa provar que o pesticida não causar danos "excessivos" ao meio ambiente, aos trabalhadores agrícolas e ao consumidor para ser aprovado, enquanto nos EUA e no Brasil, diante do poder de influencia das indústrias químicas nessas regiões, é a sociedade que precisa provar as autoridades que o produto em uso no campo é ultra-cancerígeno ou alergênico etc... Mas as regras da UE estão para mudar a a União vai permitir que as nações membros tomem suas próprias decisões a nível nacional, tudo isso em função da imensa pressão da indústria de sementes transgênicas, um pesadelo que fica para outra postagem.


Outro ponto importante são as diferenças regionais e locais nas listas. Por exemplo, no Brasil as maças tem apresentado índices quase nulos de contaminação enquanto nos EUA elas estão entre os produtos mais contaminados por agrotóxicos. O que indica que, se você está no Brasil deve procurar consumir maças nacionais e deixar de lado aquelas importadas dos EUA ou da Argentina e do Chile. Infelizmente nossos dois vizinhos Sulamericanos também pegam pesado na química. Outra diferença importante são as batatas que estão fora da lista do Brasil mas estão nas listas americanas anualmente, enquanto no Brasil as cenouras são as vilãs do agrotóxico. Os pêssegos nem constam da lista brasileiras de amostras analisadas, mas na Europa e nos EUA estão entre as frutas produzidas com um dos maiores índices de pesticidas, principalmente na Espanha, de onde vem os pêssego que consumimos na Noruega.





Listas com os alimentos cujas culturas registram índices de contaminação ou risco são produzidas no Brasil pela Anvisa. Em relação a Noruega há o Genøk e a EFSA, agência do pacto econômico europeu do qual a Noruega faz parte. Já nos EUA é a EPA que regulamenta a segurança ambiental e o uso de pesticidas e produz um relatório anual. Mas as associações de consumidores nacionais e internacionais tem um papel fundamental e devem fiscalizar as ações dos governos e das agências oficiais, garantir que eles estão cumprindo o seu papel de fiscalizar, analisar e limitar o uso de pesticidas no sentido de garantir a segurança alimentar de sua população.


No Brasil a Rede Brasileira Contra os Agrotóxicos divulga e analisa os resultados de todas as listas da Anvisa e é um excelente veículo para todos os que desejam estar informados. O mais recomendado é seguir as orientações da Anvisa e deixar de consumir os produtos cujas amostras atingiram índices considerados inseguros. Quanto aos produtos seguros para consumo acho que podemos seguir a mesma lógica que recomenda preferir os produtos com casca grossa e cuja produção demanda menor volume de pesticidas. É sabido que determinadas culturas são mais vulneráveis a pragas e pestes e por isso acabam estando mais a mercê do uso excessivo de pesticidas.

A lista brasileira listou este ano pimentões, morangos, uvas e cenouras como os grandes vilões. Mas maças, tomates e frutas consumidas com casca também são vilãs. Na lista dos EUA o cabeça de chave é hora o pêssego hora o pimentão e o salsão. A lista dos americanos (veja abaixo) também incluiu este ano: morangos, as cerejas e os mirtilos.



(Lista produzida anualmente nos EUA pelo Environment Working Group para servir de guia para os consumidores. Conheça a Lista completa com os 49 produtos, do melhor para o pior...



Problemas da Anvisa

Problemas com a lista da Anvisa decorrem do fato da Agência não analisar todos os produtos consumidos pelos brasileiros mas os produtos vendidos nos supermercados brasileiros, mas apenas os produtos mais consumidos. Por exemplo, a Anvisa analisa a alface, a couve e o repolho mas deixa de fora o agrião, rúcula, espinafre, bertalha, o brócoli e a couve flor. Analisa a laranja mas não analisa a tangerina, nem os limões. Não analisa os produtos importados como cerejas, peras e maças. Enfim, ainda há muito por fazer e por isso é importante estar ligado.


(*) Não é a primeira vez que eu uso um título de um livro ou filme famoso como título de postagem, acho que encaixam no assunto fica tão divertido que eu não resisto. Mil desculpas se você veio aqui para ler algo sobre Nietzsche!

Comentários

Helena disse…
Claudia
Por isso é que gostava de viver no campo e ter uma horta e pomar biológico.
Tento sempre arranjar produtos biológicos , mas nem sempre consigo.
Gostava de ter acesso a esta informação em Portugal.
Beijo
Claudia disse…
Patty,

Obrigada pelo convite. Eu adorava Ovomaltine quando era criança.


Helena,

Eu acho que não deve ser difícil conseguir os dados, pelo menos a nível europeu como um todo, já que eles regulam tudo tão incisivamente. Mas a coisa na Europa está para mudar por causa da pressão da indústria de transgênicos que vai passar as decisões sobre as sementes transgênicas para o nível nacional e não mais da UE.

Beijos,

Cláudia

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